12/12/2024 | News release | Distributed by Public on 12/12/2024 05:34
Por que há menos interesse na gestão da água do que em outras questões ambientais importantes?
Lionel Goujon: A questão é tratada pelos Estados e as demandas com relação ao assunto são significativas: a água representou 14% das atividades da AFD no ano passado. Mas ainda há um problema de falta de governança a nível internacional. A água é, antes de mais nada, um recurso local administrado a partir das bacias hidrográficas, o que pode explicar a menor necessidade de uma política hídrica global. Contrariamente ao clima, a biodiversidade ou a desertificação, não há nenhuma convenção das Nações Unidas sobre a água, nenhum documento que obrigue os Estados a se comprometerem com trajetórias de melhoria, nenhum monitoramento... Não houve muitas conferências da ONU sobre a água: apenas em 1977 e 2023.
Nada menos que 26 agências das Nações Unidas trabalham com questões relacionadas à água. Essa diversidade de atores e a dificuldade de coordená-los é, sem dúvida, um dos motivos da falta de clareza em termos de governança até agora. No entanto, há dois meses, uma enviada especial para a água do Secretário Geral das Nações Unidas foi nomeada para cuidar das questões relacionadas à água. Além disso, há conferências da ONU sobre a água programadas para 2026 e 2028.
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Quais foram os objetivos do One Water Summit e qual foi o progresso alcançado?
O principal objetivo era garantir que a questão fosse tratada no mais alto nível político, como através da ação dos presidentes da França e do Cazaquistão, bem como pelo Banco Mundial, a fim de criar um impulso no período que antecede a próxima conferência das Nações Unidas sobre a água em 2026. De fato, os países que fizeram progressos significativos em termos de gestão da água são aqueles em que a questão foi tratada por seus chefes de Estado, os mais capazes de dar um impulso real ao tema.
Em seu discurso, o presidente francês também enfatizou o papel dos bancos públicos de desenvolvimento no financiamento do setor. É exatamente nisso que estamos trabalhando junto com nossos colegas de outros países na Water Finance Coalition, criada como parte da iniciativa Finance in Common (FiCS), bem como com os bancos nacionais de desenvolvimento, que financiam menos o setor de água em termos de porcentagem de suas atividades do que os bancos internacionais.
Na cúpula de 3 de dezembro, também houve o lançamento da iniciativa One Water Vision. Seu objetivo é fazer com que os governos e a comunidade de pesquisa trabalhem juntos para melhorar nosso conhecimento sobre os recursos hídricos. Paradoxalmente, na África, por exemplo, o sistema de monitoramento de recursos hídricos está pior do que há 50 anos. O desafio é conseguir mantê-lo e, ao mesmo tempo, usar novas tecnologias, especialmente imagens de satélite.
Como a AFD atua no setor de água e saneamento?
O Grupo AFD apoia vários projetos no setor de água em todo o mundo. No Egito, a AFD está financiando a ampliação da estação de tratamento de águas residuais de Gabal El-Asfar, a maior da África. Uma parte das águas tratadas na estação é reutilizada no leste do Cairo. Nos últimos 20 anos, também apoiamos a companhia hídrica de Phnom Penh, no Camboja, que se tornou um modelo de gestão pública eficiente. No Brasil, a Proparco apoia operadores de distribuição e tratamento de águas residuais, que prestam esses serviços em grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo.